quinta-feira, 25 de agosto de 2011

CÃES - Síndrome da cauda equina.

A  cauda equina é um "conjunto de nervos" que fica logo após o término da medula propriamente dita. Alguns dos nervos periféricos que formam a cauda equina e que tem importância clínica são os nervos isquiáticos (L6-L7-S1); nervos pudendos (S2 e S3); nervos pélvicos (S2 e S3) e nervos caudais (Cc1 a Cc5). Alguns estudos demonstraram que as articulações lombossacrais possuem mais mobilidade do que outras articulações da coluna, o que pode influenciar a maior incidência de doenças degenerativas nessa região.

A síndrome da cauda equina (SCE) também pode ser chamada de estenose do canal vertebral lombossacro, instabilidade lombossacra, entre outros. A estenose do canal vertebral é uma designação que abrange vários distúrbios que resultam em estreitamento do canal vertebral lombossacro, o que acarreta em compressão da cauda equina. O temo SCE descreve um grupo de sinais neurológicos que resultam de compressão, destruição ou deslocamento das raízes nervosas e dos nervos espinhais que formam a cauda equina por várias causas (incluindo estenose do canal vertebral lombossacro).

A estenose do canal vertebral lombossacro é um distúrbio adquirido de cães de raças de grande porte que resulta de todas ou várias das alterações que se seguem:
- Protrusão de disco tipo II (abaulamento dorsal do ânulo fibroso);
- Hipertrofia e/ou hiperplasia do ligamento interarqueado;
- Espessamento de arcos vertebrais ou facetas articulares ;
- Subluxação/instabilidade da junção lombossacra.
Nos cães, o problema encontrado com mais frequência é um "deslizamento" ventral do sacro com relação ao corpo da vértebra L7.


Radiografia de um cão. Localização das vértebras L7 e S1. Fonte: http://dc109.4shared.com/img/5rmQnn0s/preview.html

Em um estudo, 30% dos cães da raça Pastor Alemão que apresentavam sinais clínicos de compressão da cauda equina tinham anormalidades radiográficas e patológicas compatíveis com osteocondrose da placa terminal sacral.

Sinais clínicos
A SCE é mais comum em cães de grande porte, como o Pastor Alemão. Os machos podem ser mais acometidos que as fêmeas. Os cães que tem a forma congênita da doença, geralmente são de raças menores.
Os cães acometidos, na maioria, tem entre 3 a 7 anos; porém a doença pode ocorrer em qualquer idade.
É uma doença rara nos gatos.

Os principais sinais clínicos incluem:
- Dor aparente à palpação da região lombossacra, à extenção caudal dos membros pélvicos ou quando o cão eleva a cauda;
- Dificuldade para levantar;
- Claudicação (mancar) em membro pélvico - geralmente de um lado só;
- Atrofia muscular dos membros pélvicos;
- Paresia da cauda;
- Desgaste dos dedos;
- Incontinência urinária e/ou fecal ou micção inadequada, pois o cão não consegue assumir a posição correta;
- Automutilação do períneo, da cauda ou dos membros pélvicos;
- Parafimose (raro).

Na maioria dos casos, os sinais clínicos vão progredindo com o decorrer do tempo. Podem facilmente ser confundidos com sinais de displasia coxofemoral ou mielopatia degenerativa.

No exame neurológico, há déficit da marcha que está relacionado com a paresia do nervo ciático (faz com que o cão arraste os dedos). Pode haver depressão ou ausência da propriocepção consciente (quando o cão não consegue virar a pata para a posição normal, veja figura) e os reflexos patelares normalmente estão normais ou exagerados. Reflexos de flexão ausentes ou diminuídos nos membros pélvicos; tônus anal e reflexos do esfíncter anal diminuídos; bexiga atônica; hipoestesia do períneo e da cauda e atrofia muscular.

Cão da raça Pastor Alemão com perda de propriocepção (pata "virada" para cima).

Diagnóstico
- O diagnóstico é fechado com base nos sinais clínicos que o animal apresenta, juntamente com a radiografia. 
- A radiografia simples pode determinar alterações importantes como diminuição de espaço entre L7-S1,  doença articular degenerativa nesse mesmo local, deslocamento ventral do sacro em relação a L7, entre várias outras. Outros exames mais precisos, que fornecem informações que a radiografia simples não fornece são: tomografia linear, eletromiografia, radiografias contrastadas, mielografia, epidurografia, ressonância magnética, entre outros.

Tratamento
- Quando o cão apresenta sinais discretos ou quando o único problema é a dor lombossacra aparente, confinamento e exercícios com guia por 4-6 semanas geralmente melhoram com o passar do tempo. Pode-se usar analgésicos ou corticóides, sempre acompanhado pelo veterinário.
- Para os cães que recebem somente o tratamento clínico, os sinais podem recidivar. Quando a opção é por não fazer a cirurgia, a fisioterapia é essencial para manutenção do paciente. 
- Quando os sinais clínicos vão de moderados à grave (especialmente os que tem incontinência urinária/fecal) ou há recidiva, deve-se pensar em cirurgia descompressiva da cauda equina. 
- PÓS CIRÚRGICO: Os cães devem ser confinados por 2-4 semanas após a cirurgia. As complicações do pós operatório incluem seroma no local da cirurgia e cicatriz de laminectomia. Cães que passaram pela cirurgia, devem ter acompanhamento rigoroso do veterinário e controle da dor.
- Antes da cirurgia, quando há atonia vesical (bexiga não consegue liberar a urina), deve ser feito o esvaziamento manual da bexiga 3 vezes por dia.

Prognóstico:
- O prognóstico depende da gravidade dos sintomas antes da cirurgia. Pode-se esperar retorno normal das funções para cães que tinham sinais discretos antes da cirurgia. Cães com atonia vesical ou esfíncter anal flácido antes da cirurgia tem um prognóstico pior.

FISIOTERAPIA
A fisioterapia é imprescindível para cães que tem síndrome da cauda equina, especialmente àqueles que não irão passar pela cirurgia. 

- Para cães que fizeram cirurgia:
A fisioterapia aqui irá tratar especialmente a dor e os estímulos proprioceptivos. Mobilização articular passiva, massagem, estímulos como a escovação por exemplo. 
É usado o TENS para controle da dor, laser para manutenção das articulações e também como antiinflamatório e para a dor. Ultrassom terapêutico (UST) também pode ser usado antes dos alongamentos.

- Para cães que não fizeram cirurgia:
Aqui a fisioterapia é muito importante e não deve ser deixada de lado. Irá manter o cão sem dor e fazer muitos estímulos proprioceptivos, o que é fundamental no tratamento. Faz-se o uso de TENS (dor), laser (dor e estímulos regenerativos), UST (para preparar a musculatura para o alongamento), escovação, massagem, mobilização passiva, pedalagem, entre outros. Quando o cão consegue andar e não demonstra dor, pode ser usada a pista de obstáculos (bem baixinho) para estimular a propriocepção do cão durante a marcha.


Paciente Jobe Júnior, Pastor Alemão, 11 anos. O diagnóstico é de SCE + displasia coxofemoral. No vídeo, fazendo exercícios proprioceptivos com obstáculos. O Júnior continua em tratamento.

Referência: Tratado de medicina interna veterinária - Ettinger e Feldman, 2004.